domingo, 17 de julho de 2016

UM BURACO NEGRO ALIMENTADO POR DILÚVIO GALÁTICO FRIO


Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), uma equipe internacional de astrônomos foi testemunha de um evento meteorológico cósmico nunca antes observado — um aglomerado de enormes nuvens de gás intergalático “chovendo” sobre um buraco negro supermassivo situado no centro de uma enorme galáxia a um bilhão de anos-luz de distância da Terra.
Novas observações do ALMA mostram a primeira evidência direta de que nuvens densas frias podem coalescer a partir de gás intergalático quente e mergulhar no coração de uma galáxia, alimentando o seu buraco negro supermassivo central. Estas observações mudaram o modo como os astrônomos pensavam que os buracos negros se alimentavam, num processo chamado acreção.
Anteriormente os astrônomos pensavam que, nas galáxias maiores, os buracos negros supermassivos tinham uma dieta lenta e contínua de gás quente ionizado vindo do halo da galáxia. As novas observações feitas com o ALMA mostram que, quando as condições meteorológicas intergaláticas são as certas, os buracos negros podem igualmente “engolir” uma enorme quantidade de nuvens gigantes caóticas de gás molecular muito frio.
“Embora tenha havido uma previsão teórica importante em anos recentes, esta é a primeira evidência observacional inequívoca de uma chuva caótica e fria, que alimenta um buraco negro supermassivo,” disse Grant Tremblay, um astrônomo da Universidade de Yale em New Haven, Connecticut, EUA, antigo bolsista do ESO e autor principal do novo artigo científico que descreve estes resultados. “É empolgante pensar que podemos estar mesmo observando uma tempestade, cobrindo toda a galáxia, que alimenta um buraco negro cuja massa é cerca de 300 milhões de vezes a do Sol.”
Tremblay e a sua equipe utilizaram o ALMA para observar o aglomerado estranhamente brilhante de cerca de 50 galáxias, coletivamente chamadas Abell 2597. No seu centro situa-se uma galáxia elíptica massiva chamada, de forma descritiva, Galáxia Mais Brilhante do Aglomerado Abell 2597. Banhando o espaço entre estas galáxias, no interior do aglomerado, encontra-se uma atmosfera difusa de gás quente ionizado, o qual tinha sido anteriormente observado com o Observatório de raios X Chandra da NASA.
“Este gás muito quente pode esfriar rapidamente, condensar e precipitar, do mesmo modo que ar quente e úmido na atmosfera terrestre pode dar origem a nuvens de chuva e precipitação,” disse Tremblay. “As nuvens recentemente condensadas “chovem” depois na galáxia, dando origem a formação estelar e alimentando o seu buraco negro supermassivo.”
Os pesquisadores descobriram perto do centro desta galáxia o seguinte cenário: três núcleos massivos de gás frio que se aproximam do buraco negro supermassivo, situado no centro da galáxia, a cerca de um milhão de quilômetros por hora. Cada nuvem destas contém tanta matéria como um milhão de Sóis e apresenta uma dimensão de dezenas de anos-luz.
Normalmente, objetos nesta escala de grandezas são difíceis de distinguir a estas distâncias cósmicas, mesmo com a enorme resolução do ALMA. No entanto, a observação destas nuvens deve-se às “sombras” de bilhões de anos-luz de comprimentos que projetam em direção da Terra.
Dados adicionais do National Science Foundation´s Very Long Baseline Array indicam que as nuvens de gás observadas pelo ALMA estão a apenas cerca de 300 anos-luz de distância do buraco negro central, ou seja, estão praticamente prontas para serem “devoradas”, em termos astronômicos.
Apesar do ALMA ter apenas conseguido detectar três nuvens de gás frio perto do buraco negro, os astrônomos pensam que podem existir milhares destes objetos na vizinhança, preparando-se o buraco negro a receber uma “chuva” contínua, que poderá alimentar a sua atividade durante um longo período de tempo.
Os astrônomos planejam agora procurar estas “tempestades” em outras galáxias, de modo a determinarem se tal meteorologia cósmica é tão comum como as atuais teorias sugerem.

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